Opiniões políticas

Opiniões políticas são muitas vezes evitadas, especialmente num contexto profissional. As pessoas querem evitar conflitos, ainda mais quando estes podem ser gerados com clientes. Como tradutores, devemos mostrar as nossas opiniões políticas ou mantê-las para nós? 

Falar ou estar calado

Como seres humanos temos o direito às nossas opiniões e perspectivas sobre os vários assuntos. A política é um assunto que causa bastante divisão e que leva a conflitos, por isso, entende-se que algumas pessoas se abstenham de mostrar as suas opiniões políticas para evitar discussões. Mas será a decisão certa? 

Penso que não. Criar um tabu não nos vai ajudar. Mas neste mundo “dos revoltados” que temos hoje, nomeadamente nas redes sociais, é quase impossível falar de alguma coisa sem ser automaticamente atacado. Todavia, criar um espaço para o debate e partilhar ideias com outras pessoas é muito positivo.

Falar sobre política não tem de ter a conotação negativa que algumas pessoas lhe dão. Votar é uma parte crucial de qualquer democracia, portanto, falar sobre política e ter uma discussão saudável sobre o que se passa à nossa volta é, na realidade, parte do processo democrático. Por isso, penso que deveríamos falar de política, deveríamos procurar opiniões diferentes e partilhar as nossas também, na minha opinião é a única forma de abrirmos os nossos horizontes e crescermos como cidadãos.

Mas devem os tradutores partilhar as suas opiniões políticas?

Depende do contexto no qual essas opiniões políticas são dadas e o que acrescentam às nossas circunstâncias profissionais. Algumas decisões políticas podem afectar directamente o nosso trabalho, portanto, devíamos falar sobre essas decisões e expressar as nossas opiniões.  

Estou a pensar no caso do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa 1990. Tenho mostrado ferozmente a minha posição contra este. Foi uma decisão política extremamente errada, que afectou o país onde nasci e vivi por 30 anos, e uma das línguas com as quais trabalho, o português. Por isso, não podia ficar calada, enquanto uma das línguas com as quais trabalho era vandalizada e a cultura do país que lhe deu origem desrespeitada. Não cumpro tais regras, já recusei trabalho por não cumprir tais regras, e juntei-me a colegas e outros cidadãos portugueses numa campanha para ver este documento revogado. A nossa proposta e assinaturas estão neste momento na Assembleia da República para serem votadas.    

Contudo, quando um assunto político não tem qualquer relação com o nosso trabalho, não vejo necessidade de mostrarmos a nossa opinião, num fórum profissional. Mas mais uma vez, tudo depende do contexto e no que essa opinião acrescentará à conversa. Acima de tudo, eu acredito em liberdade de expressão, e acredito que todos temos o direito de dizer o que pensamos, de uma forma respeitosa claro.