Certificar traduções de outrem

Certificar traduções de outrem. Poderá um Tradutor Certificado rever uma tradução efectuada por outra pessoa e certifica-la? Não! Um Tradutor Certificado apenas pode certificar traduções de sua autoria, não é ético ou legal colocar o carimbo e certificar uma tradução que não fomos nós a fazer.

A minha experiência

Há uns anos, fui contactada por um cliente, que tinha pago a alguém para lhe traduzir um documento. Uma vez que a pessoa não era Tradutor Certificado, não podia certificar essa tradução e este necessitaria de um Tradutor Certificado para o fazer. Contactou-me e perguntou se eu poderia rever a tradução feita, para a “tornar minha” e depois certificá-la.

Eu expliquei ao cliente a razão pela qual não o poderia fazer e, no final, fiquei com o trabalho

Técnicamente já não é de outrem, mas éticamente nunca foi “minha” 

Quando um tradutor revê uma tradução de outra pessoa, essa nunca será deste. Nós lemos a dita tradução, comparamos com o original, na língua de partida e identificamos possíveis erros de tradução. Os nossos comentários são depois enviados à pessoa que fez a tradução, para que esta possa ter a oportunidade de responder aos nossos comentários e aceitar, ou rejeitar, as nossas sugestões. Eu já fiz isto muitas vezes.     

A tradução nunca é minha, eu estou apenas a revê-la e a apontar possíveis erros. O autor da tradução pode não concordar comigo e tem o direito de exprimir a sua opinião. Se eu tivesse revisto aquela tradução e tê-la “tornado minha” seria eticamente errado. De acordo com o Código de Ética e Código de Conduta da AUSIT, quando revemos uma tradução temos de a retornar ao tradutor para que este comente e aprove. Caso sejam feitas alterações à tradução, após a entrega desta ao cliente o tradutor já não é responsável por este.

T9 Se uma tradução for sujeita a revisão ou verificação por parte de outro tradutor, a revisão é reenviada ao tradutor original para aprovação e finalização. Se são efectuadas alterações ao texto traduzido após a entrega ao cliente, sem a autorização do tradutor, o tradutor já não é responsável pelo texto traduzido.

Código de Conduta e Código de Ética AUSIT

Tecnicamente, se eu fizesse alterações, já não seria da responsabilidade do meu colega, mas não seria ético fazê-lo. É por isso que não o fiz. Eu apenas posso certificar traduções de minha autoria. Não posso certificar uma tradução que foi feita por outra pessoa, mesmo que a tenha revisto.

O meu conselho

É por essa razão, que recomendo sempre aos meus clientes que saibam as regras relativamente à tradução certificada. Cada país pode ter regras diferentes e é essencial que esteja ciente destas regras, antes de contratar um serviço de tradução. Este cliente pagou duas vezes pelo mesmo serviço. Eu não o poderia ter feito gratuitamente, embora me sentisse mal por ele ter pago previamente para que o trabalho fosse feito sem certificação.

Na Austrália, todas as candidaturas e requerimentos ao Governo, que contenham documentos numa língua estrangeira, têm de ser traduzidos por um Tradutor Certificado pela NAATI. Poderá encontrar-nos na Directoria da NAATI. Em Portugal, as regras são diferentes, mas se estiver na Austrália, terá também de submeter traduções efectuadas por um Tradutor Certificado pela NAATI, para que estas depois sejam reconhecidas pelo Consulado Português, segundo as regras deste.

Quer a NAATI, como  AUSIT disponibilizam muita informação no que respeita a este assunto, nos seus websites, para que os clientes saibam o que fazer e como contratar um serviço linguístico profissional. No final, poupa-lhe dinheiro, garante qualidade e conformidade.