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O AO90 e a anarquia linguística total

Para os países de expressão portuguesa, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa 1990 (AO90) não é novidade. Muito se tem dito e escrito sobre o assunto, e é um facto que ninguém está contente com este, e alguns nem sequer o aplicaram. Na realidade, o que aconteceu, foi termos sido atirados para uma anarquia linguística total, onde são inventadas palavras todos os dias, já ninguém sabe como escrever correctamente, e para aqueles que trabalham com a língua no dia-a-dia, corta o coração ver o que este documento lhe fez.  

A língua portuguesa possui uma influência greco-latina, tal como muitos outros países na Europa. Mas a língua portuguesa vai muito para além da Europa, é falada na África, Brasil, Timor-Leste, etc. É normal que em todos estes países esta tenha sofrido a sua influência cultural e desenvolvido naturalmente de acordo com esta, tal como aconteceu com o português europeu.  Isso é o que acontece com todas as línguas, é o que as faz tão ricas e interessantes; a diversidade e os traços culturais que adquirem nos diversos países.

Contudo, o AO90 é uma mudança imposta, que nada tem a ver com a evolução natural da língua, e também não serviu o seu propósito de a unificar.  De facto, a ideia de unificar a língua é uma ideia bastante triste, uma vez que vai matar a diversidade cultural e, basicamente, vai impor algo totalmente anti-natural aos povos de todos os países de expressão portuguesa. Para além disso, o que foi criado com a intenção de unificar a língua, veio na realidade separá-la, quer das suas variantes, quer das suas raízes europeias. Portanto, será justo dizer que falhou miserávelmente no seu objectivo e espalhou miséria por aqueles que falam a língua.

Como linguista, tenho de lidar com este assunto todos os dias. Para os meus clientes que não falam a língua é difícil entender a razão pela qual estamos contra esta mudança. Tento simplificar as coisas dizendo que seria como se, de repente, impusessem uma variante do inglês a todos os países de expressão inglesa, iria contra a sua cultura e contra a evolução natural que a língua poderia ter tido. Mas até esta explicação é muito simplista e não é totalmente correcta. Seria mais justo dizer que foi uma mudança imposta, que não favorece nenhum dos países envolvidos e que, na realidade, apenas criou confusão entre eles.

Na Updated Words, opomo-nos vivamente ao AO90 e não aplicamos o mesmo. Acreditamos que, como linguistas, deveríamos defender as línguas com as quais trabalhamos e as culturas dos países onde estas são faladas. Não somos políticos, não acreditamos que deveriam ser os políticos a tomar este tipo de decisões, mas sim linguistas, pessoas que realmente entendem e respeitam as complexidades das línguas, o facto de que a diversidade é o que as torna tão interessantes e, acima de tudo, o que as torna parte da identidade de um país, “Unificar” uma língua é matar essa diversidade, esses traços culturais e parte dessa identidade.

Neste momento, está a decorrer uma petição na Assembleia da República Portuguesa para a realização de um Referendo ao AO90. Os cidadãos portugueses podem assinar esta petição, registando-se no portal da Assembleia da República e depois assinando a petição. Terá de fornecer o seu número de Cartão de Cidadão e outros dados de identificação, para que a sua assinatura seja válida.  Se pretende assinar, por favor clique aqui.

Cátia