O preço da liberalização no sector da tradução é muito elevado, não só para os profissionais que trabalham no sector, mas também para os seus clientes, que acabam com custos exacerbados. Baixa os niveis de qualidade no sector, levando à exploração dos seus profissionais. E para os clientes, os resultados de uma tradução de má qualidade, cheia de erros, que necessita de ser revista irá custar mais. É uma situação horrível para todos os envolvidos, veja como.
Para clientes
O sector da tradução está liberalizado em quase todos os países. Isto significa que qualquer pessoa pode apresentar-se como tradutor e cobrar a clientes por um serviço, que pode não estar qualificado para fazer. Para os clientes, isto pode ter um efeito devastador, uma vez que pagarão por uma tradução de má qualidade, que necessitará de ser revista e corrigida por um profissional. Ou seja, têm que pagar duas vezes pelo mesmo serviço.
Mas pagar duas vezes nem é o pior que pode acontecer. Se a tradução de má qualidade for parte de uma negociação importante ou candidatura, e, devido a estar cheia de erros ou ser confusa, essa negociação ou candidatura for recusada, poderá lesar o cliente em muito mais formas do que apenas o dinheiro. Se a tradução for imprecisa pode levar a perdas avultadas para o cliente.
Para os profissionais
Para nós, profissionais, a liberalização tem também um efeito terrível. A liberalização é uma das razões pelas quais o nosso sector é desvalorizado, levando a uma desvalorização maciça dos preços. A percepção errada de que qualquer um pode ser tradutor leva à ideia de que o nosso trabalho é muito fácil e, portanto, tem de ser barato.
Algumas agências exploram os profissionais linguísticos espremendo os seus preços ao mínimo, enquanto cobram o máximo absoluto aos clientes finais. Portanto, acabamos com uma situação em que o cliente e o tradutor são roubados por uma entidade terceira que lucra com ambos.
O que poderá ser feito
Eu penso que uma boa forma de resolver este problema é criar regras. Se o sector tiver excelentes associações que trabalhem para os seus membros e para elevar os níveis de qualidade no sector, seria benéfico para todos. Um sistema de pagamentos referência, que estipulasse referências para os preços a pagar em cada país, isto não permitiria que tradutores trabalhassem quase de graça, para ganhar experiência ou simplesmente para ter algum rendimento. Tornaria a profissão respeitada e valorizada como deveria ser.
Tal como acontece em outros sectores, a afiliação a uma associação deveria ser obrigatória. Aqueles que quisessem fazer parte deste sector, deveriam ter as qualificações adequadas e serem membros de uma associação, que não só tivesse o papel de promover o sector, mas também assegurar as qualificações dos seus membros.
Isto pode parecer um pouco controverso, e eu sei que alguns colegas meus podem não concordar comigo, mas eu acredito vivamente que se tivermos mais regulamentos no nosso sector, teremos mais respeito e seremos mais valorizados pelo que fazemos.